terça-feira, 22 de julho de 2008

Os 12 trabalhos

Dentre os vários trabalhos interessantes no tocante à retratação da pobreza, da violência e dos tortuosos percursos que habitam o cotidiano de milhões de pessoas, no cinema brasileiro recente, Os 12 trabalhos, filme de Ricardo Elias (que dirigiu também De Passagem), merece certo destaque. O filme trata da história de Herácles, um garoto negro, habitante de uma das tantas periferias de São Paulo e que pretende reformular sua vida após uma passagem pela Febem (Hoje, Fundação Casa). Após arrumar um emprego como motoboy, através de um primo que atua na mesma área, Herácles passa a percorrer além das ruas e da turbulência da capital paulista, a violência cotidiana da assimetria que o distancia socialmente daqueles que atende. Aos poucos vamos sendo guiados através da garupa desse jovem habitante de uma das tantas periferias da cidade pelos transtornos e humilhações vividos por rapazes como ele. Se em De Passagem, o diretor Ricardo Elias peca pelo exagero com que constrói a relação entre os personagens, de modo que o filme (que deveria dar o tom exato da difícil e particular “realidade” dos habitantes da periferia, sem torná-la visualmente no centro da questão) acaba se tornando monótono, em Os 12 trabalhos, a temporalidade entre a narrativa e as ações dos personagens é perfeita e a delicadeza com que mostra o duro trânsito entre o “legal” e o “ilegal” e o “centro” e a “periferia” da garupa do motoboy Herácles faz valer cada minuto. A minha experiência particular ao final do filme foi a de uma incômoda sensação, seguida de um suspiro. Algo próprio de quem vive bem perto da realidade retratada no filme (me refiro à proximidade, tanto do lado dos humilhados quanto dos que os humilham). É um desses “tapas na cara” que devemos tomar de vez em quando para pensar na microfísica que estabelece, como uma segunda natureza, os distanciamentos sociais. Para compreendermos a crueldade de uns dias na pele desses (e de tantos outros) jovens, vale à pena ver esse lindo filme.

textos para pensar a temática do filme:

http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/scielo/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article^dlibrary&fmt=iso.pft&lang=i&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=TELLES,+VERA+DA+SILVA

Um comentário:

Adriana disse...

Ainda não assisti “Os 12 trabalhos”, mas é um filme que pretendo assistir... Já “De Passagem”, assisti e trabalhei com ele nas oficinas de Ética e Cidadania que desenvolvo com jovens na zona leste de São Paulo. Acredito que “Os 12 trabalhos” pode render muito mais discussões e ser ainda mais rico na reflexão com os jovens... Gosto de trabalhar com filmes durante as atividades, principalmente quando esses proporcionam uma identificação com relação a realidade vivenciada por eles, possibilitando ao mesmo tempo um distanciamento para reflexão com relação a tal cotidiano...
Beijos...