Carta à Mãe África
Composição: Genival Oliveira Gonçalves - Gog
É preciso ter pés firmes no chão. Sentir as forças vindas dos céus, da missão... Dos seios da mãe África e do coração. É hora de escrever entre a razão e a emoção. Mãe! Aqui crescemos sub-nutridos de amor. A distância de ti, o doloroso chicote do feitor... Nos tornou! Algo nunca imaginavel, imprevisível. E isso nos trouxe um desconforto horrível. As trancas, as correntes, a prisão do corpo outrora...Evoluiram para a prisão da mente agora. Ser preto é moda, concorda? Mas só no visual. Continua caso raro ascensão social . Tudo igual, só que de maneira diferente. A trapaça mudou de cara, segue impunemente. As senzalas são as anti-salas das delegacias. Corredores lotados por seus filhos e filhas...Hum! Verdadeiras ilhas, grandes naufrágios. A falsa abolição fez vários estragos. Fez acreditarem em racismo ao contrário. Num cenário de estações rumo ao calvário. Heróis brancos, destruidores de quilombos. Usurpadores de sonhos, seguem reinando... Mesmo separado de ti pelo Atlântico. Minha trilha são seis românticos cantos. Mãe! Me imagino arrancado dos seus braços. Que não me viu nascer, nem meus primeiros passos. O esboço! É o que tenho na mente do teu rosto. Por aqui de ti falam muito pouco. E penso... Qual foi o erro cometido? Por que fizeram com agente isso? O plano fica claro... É o nosso sumisso. O que querem os partidários, os visionários disso. Eis a qüestão... A maioria da população tem guetofobia. Anormalia sem vacinação. E o pior, a triste constatação: Muitos irmãos, patrocinam o vilão... De várias formas, oportunistas, sem perceber. Pelo alimento, fome, sede de poder. E o que menos querem ser e parecer... Alguém que lembre, no visual você. ( Refrão 2x ) A carne mais barata do mercado é a negra, A carne mais marcada pelo Estado é a negra. A carne mais barata do mercado é a negra. A carne mais marcada pelo Estado é a negra. Os tiros ouvidos aqui vêm de todos os lados. Mas não se pode seguir aqui agachado. É por instinto que levanto o sangue Banto-Nagô... E em meio ao bombardeio. Reconheço quem sou, e vou... Mesmo ferido, ao fronte, ao combate. E em meio a fumaça, sigo sem nenhum disfarce. Pois minha face delata ao mundo o que quero: Voltar para África, viver meus dias sem terno. Eterno! É o tempo atual, na moral. No mural vedem uma democracia racial. E os pretos, os negros, afro-descendentes... Passaram a ser obedientes, afro-convenientes. Nos jornais, entrevistas nas revistas. Alguns de nós, quando expõem seus pontos de vista. Tentam ser pacíficos, cordiais, amorosos. E eu penso como os dias tem sido dolorosos. E rancorosos, maldosos muitos são. Quando falamos numa miníma reparação: Ações afirmativas, inclusão, cotas?!-O opressor ameaça recalçar as botas.. Nos mergulharam numa grande confusão Racismo não existe e sim uma social exclusão. Mas sei fazer bem a diferenciação. Sofro pela cor, pelo patrão e o padrão. E a miscigenação, tema polémico no gueto. Relação do branco, do índio com preto. Fator que atrasou ainda mais a auto-estima:-Tem cabelo liso, mas olha o nariz da menina. O espelho na favela após a novela é o divã. Onde o parceiro sonha em ser galã. Onde a garota viaja... Quer ser atriz em vez de meretriz Onde a lágrima corre como num chafariz. Quem diz! Que este povo foi um dia unido. E que um plano o trouxe para um lugar desconhecido. Hoje amado (Ah! muito amado..), são mais de quinhentos anos. Criamos nossos laços, reescrevemos sonhos. Mãe! Sou fruto do seu sangue, das suas entranhas. O sistema me marcou, mas não me arrebanha. O predador errou quando pensou que o amor estanca. Amo e sou amado no exílio por dona Sebastiana ( Refrão 2x ) A carne mais barata do mercado é a negra. A carne mais marcada pelo Estado é a negra. A carne mais barata do mercado é a negra. A carne mais marcada pelo Estado é a negra
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