A dor de perder um animal da forma mais perversa e covarde através de envenenamento é indescritível. O sentimento de impotência só piora à medida que vemos nas fezes e no estado de pavor do animal o sofrimento pelo qual passou. Acordei hoje com minha mãe aos prantos após se defrontar com nossa gatinha, a Mila, morta em frente à sua porta como se tivesse (e acredito que estava) pedindo socorro.
Nesses momentos, além da tristeza pela rememoração dos momentos felizes com meu bichinho, e do temor do que possa ocorrer com minha outra amiguinha (a meg), me vem à cabeça algo um pouco mais sério. O fato de que para a ignorancia não há limites, ao contrário da inteligencia, e que a brutalidade cresce exponencialmente, da mesma maneira que um vírus na medida em que a insegurança e o sentimento do "cada um por si" (e o "cada um" aqui pensado apenas no sentido de uma comunidade humana, estando, portanto, excluidos animais e todo seu entorno) parece ser a única forma de proteção.
O que quero dizer com tudo isso é que num país onde se espancam e matam pessoas pelo simples fato de terem sido confundidas com "prostitutas", "mendigos" e "empregadas", ou ainda jogam uma criança pela janela do apartamento (além das outras tantas mortas nas periferias e silenciadas da mesma forma) parece piada falar da morte de uma gatinha. "É só mais uma" poderiam dizer. O problema é que a vida tem o mesmo princípio em qualquer organismo. Seu sentido consiste sempre em buscar mais vida (no sentido mais instintivo que isso possa significar) e menos sofrimento.
Quando se pensa segundo a lógica do "cliente especial" que tudo pode comprar (falo aqui de pensamento e não de poder de compra simplesmente) e para quem, portanto, não há limites, o ato de agredir uma "empregada" ou queimar um "mendigo" pode ter o significado de uma reafirmação daquilo que distingue os agressores da vítima, tornando-a "verme" a possibilidade de uma identificação é mínima e com isso "eu, garoto de classe média, branco e com dinheiro", por exemplo, mostro para mim mesmo (mesmo que através da violência) minha "superioridade" diante daqueles que julgo menores. Vivemos em uma sociedade de tal maneira hedonista, machista e prepotente que os culpados por "nossos" problemas são sempre os outros (o vagabundo, o marginal, etc.) Esse sentimento do "cliente especial" não ausenta as classes populares. Basta pensarmos nos acontecimentos e no culto mórbito em volta do caso da menina jogada da janela de seu apartamento, ou ainda no fato de eu residir em uma área popular e não em um bairro nobre.
Nesse contexto assassinar um animal indefeso tem o mesmo sentido que jogar um velho calçado no lixo ou, talvez, até bater em uma "prostituta". Afinal, também se compram animais, da mesma maneira que se paga pelos serviços de uma "prostituta" não é?
4 comentários:
Não sei como existem pessoas q têm coragem de cometer tal ato. Sei o que está sentindo porque, como sabe, eu tb fui vítima de perder meu animal de estimação qdo morava contigo lá em Marília. realmente, a sensação q dá eh q esta faltando algo, q perdemos uma parte nossa: nos sentimos deslocados.
Fiquei chjateado c a notícia mesmo sem conhece-la.
querido
a beleza, densidade e profundidade do seu texto revela a tristeza que lhe deu origem. eu sei bem o que é perder um animal de estimação, já passei por isso algumas vezes. da última vez uma outra gatinha que eu tinha desapareceu sem deixar pistas, e soubemos que um vizinho costumava se divertir colocando gatos pra correr de seu Pitt-bull, até que ele conseguia pegá-los. é nojento. e o que aconteceu com sua gata vc. soube linkar o a banalização da violência em geral desse sociedade hipócrita que vivemos, de uma maneira sensível mas muito firme. que bom se toda tristeza e inconfomidade resultassem em textos belos como esse.
ah, e eu não tenho um gatinho,mas dois, o Pedro e a Capitu. Sempre sentimos um pouco de culpa por mantê-los presos no ap.,mas a cada dia percebo como isso pode ser uma proteção para eles.
Receba de todos nós aqui os mais sinceros sentimentos, estamos sofrendo contigo.
beijo enorme pra ti.
A Mila é uma princesa! Estou certa que teve uma vida feliz e com o amor necessário à sua felicidade!!! A pessoa que fez isso, é um infeliz que está fadado a colher as consequncias dolorosas do próprio ódio destrutivo que o nutre!
Mila é uma estrela e isso ninguém vai tirar dela.!
Cris
Poxa! obrigado a todos os amigos solidários. A crueldade é terrível mas essa força que me transmitem ajuda muito
Postar um comentário