domingo, 18 de julho de 2010

A beleza do fim!




Ontem assisti a um desses filmes que nos dão uma imensa sensação de prazer, justamente por serem descomprometidos de qualquer intenção política, social, etc, etc... Também acho que não fala sobre relacionamentos amorosos simplesmente, mas sobre o fim. Isso mesmo, o fim. Simples assim!Trata-se de "Apenas o Fim". Filme dirigido por Matheus Souza e muito bem representado pelos atores Érika Mader e Gregorio Duvivier. O roteiro é amarrado pela decisão de uma garota que, para pôr fim a um determinado ciclo de sua vida, resolve abandonar os pais, amigos e o namorado e viajar, sem dar  maiores explicações. Mas antes de ir, ela resolve encontrar este ultimo para sugerir que passassem  o dia da despedida juntos. A partir dai desenrolam-se divertidas sequências onde muitos momentos vividos pelo casal são trazidos à tona, juntamente com personagens que aparecem nas piores horas e com as piores atitudes. O fato, no entanto, é que, a exemplo do que coloca Michel de Certeau, (1994), o relato nunca é apenas a representação de um passado, mas a reconstrução do próprio presente e assim, os personagens que vão aparecendo, assim como o próprio passado do casal, vão sendo incorporados em um diálogo que, ao mesmo tempo em que cria espaço para a despedida, reinventa o sentido da relação entre os dois. É como se ritualizassem diante de nossos olhos toda uma vida juntos. Ao menos tudo o que importa! Assim, somos levados a crer que isso que chamamos de vida (a "vida"), é só uma desculpa esfarrapada para a criatividade que o fim nos exige . "Eu sou aquela vontade que dá de tomar Fanta Uva". Assim se define o rapaz à garota que então,lhe pergunta "e eu, sou o que? Champagne?", esperando que ele fosse dar vida à dicotomia  entre infantilidade/ maturidade e ele diz "não, você é um mentos", apontando criativamente para o inesperado. Por trás de cenas engraçadas e belas como essa, encontra-se a idéia de que esta coisa estranha que nossas mentes cartesianas costumam chamar de "vida", não resume-se a uma partida ou a uma chegada, mas à criatividade por meio da qual encerramos o ciclo das coisas. E o que instiga a criatividade, a "vida" ou o fim dela? Ao fim, descobrimos que a beleza está no fato de percebemos que entre a Fanta e o Champagne existe o Mentos. Assistam "Apenas o fim"

Referência bibliográfica:

De Certeau, Michel: A invenção do cotidiano 1 (artes de fazer), Petrópolis, Vozes, 1994.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sim há sempre novos caminhos, sabores, experiências, sensações etc. para serem descobertos e vividos, o problema é como chegarmos até eles e isso não depende só de nós..... não basta abandonarmos pessoas e coisas, mas talvez já seja um começo necessário.....o problema é como reconstruir e descobrirmos o nosso caminho e um posssível.....