sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A beleza está nos olhos de quem vê - Parte 1 - Descrição de algumas cenas

Bonecas Russas em 4 cenas





Cena 1:
Após iniciar um relacionamento amoroso com Wendy, uma amiga dos tempos em que estudou fora, Xavier, um escritor de novelas estilo soap operas e ghost writer (aquele que colhe histórias contadas por pessoas que pretendem ser biografadas), é convocado a trabalhar como Ghost Writer de uma famosa top model, que, por sua vez, usa todo o seu arsenal sedutor na busca por atraí-lo. Algo que consegue facilmente. Nos poucos momentos em que Célia, a Top model, fala de sua vida a Xavier, suas narrativas constroem sua visão de mundo. Célia fala dos inúmeros homens "que morreriam por ela" e de um cachorro que amava. Esse é o universo que ela pretende ver tornado livro. Wendy, por sua vez, trabalha com Xavier na criação de um roteiro de telenovela para a televisão e num momento de trabalho, Célia o liga e Wendy vê seu nome estampado na tela do celular de Xavier, que estava no banheiro. Ao retornar Xavier atende e Célia o convida a passar uns dias em Moscou com ela. Após aceitar o convite, Xavier mente para Wendy dizendo que havia sido convocado por seu editor para um trabalho em Moscou.

Cena 2: Wendy acompanha Xavier até a estação de trem em Londres com a esperança de conseguir fazer sua consciência pesar e ele se arrepender da viagem, ficando com ela e protagonizando uma das tantas cenas de amor que vemos nos filmes americanos. Então eles iniciam um diálogo:



Ela:
- Você é o homem perfeito.
Ele:
- Engano seu, eu não sou perfeito. Se tem alguém errado na terra, sou eu!
Ela:
- Foi o que eu disse, você é perfeito.
Ele:
- Como pode ser tão gentil?
Ela:
Eu não sou tão gentil. Você foi a melhor coisa que me aconteceu em 26 anos.
Ele:
- Acho que não sou quem você pensa que eu sou.
Ela:
- O que está pensando? Sei que você nem sempre é perfeito. Que tem problemas, defeitos, imperfeições, mnas quem não tem? Eu gosto dos seus problemas. Me apaixonei pelos seus defeitos, eles são fantásticos. Antes eu vivia carregando o Ed (o ex dela). Comparado a ele você é uma festa. Sei que as mulheres adoram homens bonitos, mas elas só vêem isso. Eu não sou assim. Não vejo só a beleza, gosto de outras coisas. Gosto do que não é perfeito. Eu sou assim. Acho que tem que embarcar. (ela o beija)
Ele (pensando em silêncio):
- qualquer homem normal correria atrás dela depois de ouvir isso. Eu não me movi, ou melhor, o trem se moveu. Eu deixei passar.

(Ela sai chorando pelo desprazer de perder sua última esperança)




(...)

Cena 3: (ele desembarca em Moscou e vai até o hotel da famosa Top Model que o seduz há algum tempo, desde que ele foi trabalhar como seu Ghost Writer):

Num momento em que ele a vê deitada sobre a cama atendendo a uma ligação pensa consigo:
- Ao vê-la, achei-a tão linda. Pensei: "Célia faz qualquer um sonhar." Ela é quase irreal de tão linda. Deve ser incrível viver com uma mulher assim.
Logo após saem para uma boite onde ela segue incessantemente seu jogo de sedução. Ela então vem até ele e lhe pede um copo de leite. Ele vai até o balcão fazer o pedido e quando volta se depara com a mesa onde estavam vazia. Célia havia encontrado amigos cosmopolitas (sobre o cosmopolitismo ver http://olharinfocoolhar.blogspot.com/2008_06_01_archive.html) como ela e saído para um lugar desconhecido. Na saída ela liga para o telefone dele, que toca em seu bolso, mas ele não repara.



No fim ele chega à seguinte conclusão, comparando-a a uma rua de São Petesburgo que lhe fora apresentada anteriormente e cujas medidas e proporções são absolutamente perfeitas:




Observando-a viver, caminhar.
Embalar-me no balanço de sua saia.
Embriagar-me no movimento do tecido sobre seu corpo.
Achei que esse espetáculo me bastaria para uma vida. Mas é possível viver assim?
Senti que deveria fazer o que todos queriam de mim: parasse de viver e voltasse à vida real.
- Ei, idiota! (ele diz à modelo que continua lentamente seu caminho) Sua rua, quer que eu lhe diga? Ela é feia.

(...)

Cena 4: No desfecho do filme Xavier faz a seguinte reflexão, enquanto segue ao encontro de Wendy:

Pensei nas garotas que conheci, com quem transei ou só desejei.
Elas eram como bonecas russas.
Passamos a vida inteira nesse jogo tentando saber qual será a última.
A menorzinha que estava escondida dentro das outras desde o início.
Não podemos ir direto até ela. Temos que seguir as regras.
Abrir uma após a outra e nos perguntar: "esta é a última?"

Ele então, após ter conseguido reconquistar Wendy (a garota comum, cuja beleza não se pretende ideal e que, justamente pelo fato de exercitar sua auto reflexão com certa constância, aprendeu a amar de verdade), que antes o mostrou diversas lições, segue em busca dela e o encontro "comum", "discreto" e por isso lindo e emocionante fica marcado nas expressões de seus rostos ao se encontrarem.

Ele (antes de vê-la):



Ele (depois de vê-la):



Ela (antes de vê-lo):



Ela (depois de vê-lo):



O encontro:



O Fim (o quebra cabeça):



A obra finalizada:


Um comentário:

GMS disse...

Esse filme é mesmo muito lindo!!! Cada bonequinha desmontada e descartada abre a expectativa de que a bonequinha seguinte seja a última... Alguns de nós, movidos pela ansiedade, curiosidade e descompromisso desse exercício, continuam a desmontar e descartar bonequinhas por toda a vida sem nunca chegar à última, porque cada bonequinha reflete o que temos dentro de nós mesmos. E parar de buscar significa encontrar em si mesmo alguém que valha à pena. Quando isso acontece precisamos erguer os braços aos céus e agradecer pois alcançamos a dignidade necessária para lutar nesse mundo. Obrigada por me escolher, e deixar que eu o escolhesse, para partilhar uma vida plena de sentido. Você faz com que a cada dia eu tenha coragem de lutar para ser uma pessoa melhor. Te amo!!! Guê